quinta-feira, 29 de outubro de 2020

3º ANO B - LÍNGUA PORTUGUESA

Boa tarde, meninas e meninos... 

A atividade de hoje deverá ser feita no PORTFÓLIO e em seguida me mandem a foto. 


Lemos o  fragmento do conto de Adélia Prado na nossa penúltima aula. Faça a leitura novamente e responda as questões. Me envie somente as respostas. 


Sem Enfeite Nenhum


A mãe era desse jeito: só ia em missa das cinco, por causa de os gatos no escuro serem pardos. Cinema, só uma vez, quando passou os Milagres do padre Antônio em Urucânia. Desde aí, falava sempre, excitada nos olhos, apressada no cacoete dela de enrolar um cacho de cabelo: se eu fosse lá, quem sabe?

Sofria palpitação e tonteira, lembro dela caindo na beira do tanque, o vulto dobrado em arco, gente afobada em volta, cheiro de alcanfor.

Quando comecei a empinar as blusas com o estufadinho dos peitos, o pai chegou pra almoçar, estudando terreno, e anunciou com a voz que fazia nessas ocasiões, meio saliente: companheiro meu tá vendendo um relogim que é uma gracinha, pulseirinha de crom', danado de bom pra do Carmo. Ela foi logo emendando: tristeza, relógio de pulso e vestido de bolér. Nem bolero ela falou direito de tanta antipatia. Foi água na fervura minha e do pai.

Vivia repetindo que era graça de Deus se a gente fosse tudo pra um convento e várias vezes por dia era isto: meu Jesus, misericórdia... A senhora tá triste, mãe? eu falava. Não, tou só pedindo a Deus pra ter dó de nós.

Tinha muito medo da morte repentina e pra se livrar dela, fazia as nove primeiras sextas-feiras, emendadas. De defunto não tinha medo, só de gente viva, conforme dizia. Agora, da perdição eterna, tinha horror, pra ela e pros outros.

Quando a Ricardina começou a morrer, no Beco atrás da nossa casa, ela me chamou com a voz alterada: vai lá, a Ricardina tá morrendo, coitada, que Deus perdoe ela, corre lá, quem sabe ainda dá tempo de chamar o padre, falava de arranco, querendo chorar, apavorada: que Deus perdoe ela, ficou falando sem coragem de aluir do lugar.

[...]

Texto publicado em: PRADO, Adélia. Prosa reunida. São Paulo: Siciliano, 1999. Foi incluído no livro Os cem melhores contos brasileiros do século.

MORICONI, Ítalo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 349.

Disponível em: https://tinyurl.com/GPMPEMLPI285. Acesso em: 16 set. 202


1) Neste conto é possível entender que a narrativa é

(A) em primeira pessoa, em que a filha descreve a situação de sua mãe.

(B) em terceira pessoa, em que o autor evidencia a história de uma mãe e uma filha.

(C) contatada por um narrador onisciente que descreve a personalidade da personagem.

(D) apresentada por um narrador observador.

(E) em primeira pessoa, em que a mãe relata a convivência com a filha.


2) “[...] companheiro meu tá vendendo um relogim que é uma gracinha [...]” e “Agora, da perdição eterna, tinha horror, pra ela e pros outros.”

Nos trechos, as palavras destacadas referem-se à variação linguística considerada

(A) padrão.

(B) formal.

(C) coloquial.

(D) culta.

(E) regionalista


3) “Ela foi logo emendando: tristeza, relógio de pulso e vestido de bolér. Nem bolero ela falou direito de tanta antipatia. Foi água na fervura minha e do pai”.

No trecho, na parte destacada, pode-se entender que a personagem

(A) apoiava a compra.

(B) incentivava a compra.

(C) concordava com a compra.

(D) discordava da compra.

(E) sugeria a compra.


4) De acordo com o enredo, é possível entender que a personagem tinha medo de

(A) cacoetes.

(B) morte repentina.

(C) defuntos.

(D) adoecer.

(E) perdição eterna.